sábado, 1 de maio de 2010

SÓ DE SACANAGEM


Meu coração está aos pulos.
Quantas vezes minha esperança será posta à prova, por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha vó e os justos que os precederam: não roubarás, devolva o lápis do coleguinha, esse apontador não é seu minha filha. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar, até hábeas corpus, preventivo, coisas da qual eu nunca tinha visto falar e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste, esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear, mais honesta ainda eu vou ficar, só de sacanagem.
Dirão: deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba.
E eu vou dizer: não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos vamos pagar limpo a quem agente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo agente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: é inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi: não admito, minha esperança é imortal e eu repito, ouviram imortal.
Sei que não dar pra mudar o começo, mas se agente quiser vai dar pra mudar o final.

(Elisa Lucinda)

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